terça-feira, 3 de julho de 2012

Orientações para contenção Mecânica


O texto abaixo foi retirado de uma resolução do COREN/SP e contem orientações para as contenções mecânicas.

Restrição de pacientes*
         A restrição de pacientes refere-se a qualquer dispositivo ou ação que interfere na habilidade do cliente em tomar decisões ou que restringe sua capacidade de movimentar-se, alterando sua capacidade de raciocínio, a liberdade de movimentos, a atividade física ou o acesso normal ao seu corpo. O uso de restrição ou contenção somente deve ocorrer quando o risco de seu emprego é superado pelo risco de não utilizá-lo. É utilizada para proteger o paciente ou outras pessoas de lesões e traumas provocados por ele mesmo, ou para prevenir a interrupção do tratamento a que vem sendo submetido. Assim, a aplicação de restrição somente deve ser realizada quando outras medidas preventivas já foram consideradas ou utilizadas, não se mostrando adequadas em proteger a pessoa que tem risco de lesionar-se ou a outros. Deve ser baseada na premissa de minimizar o uso de restrição ou qualquer forma de contenção, com vistas à promoção de práticas seguras. A decisão de uso deve ser baseada no julgamento clínico de profissionais qualificados, em colaboração com a equipe multidisciplinar, com o cliente e família. A decisão clínica deve ser documentada no prontuário do paciente.
           A restrição é um procedimento terapêutico bastante controverso e de eficácia duvidosa, já que relatos sobre o aumento da agitação ou agressividade do
* Artigo de atualização escrito por Carmen Lígia Sanches de Salles e pela Profa. Dra. Mavilde L. G. Pedreira, membros da CÂMARA TÉCNICA do COREN-SP, gestão 2008-2011.
São Paulo, março de 2009.
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CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO
paciente são freqüentes em estudos na prática clínica. As maiores vítimas do uso de restrições são os pacientes idosos, sempre com justificativa de prevenção de injúrias e quedas, fato não comprovado nos poucos estudos existentes. Para os pacientes, sociedade e familiares, a contenção pode ser percebida como uma violação, um abuso físico; relatam que é uma ação desumana e desconfortável em todos os aspectos. Os objetivos da contenção de pacientes no leito são, basicamente:
  • proteger o paciente com alterações de comportamento ou consciência contra lesões e traumas (quedas, contaminação de cateteres, dispositivos, feridas, dentre outros; deslocamentos de dispositivos usados em seu tratamento, como sondas, drenos, cateteres etc.) provocados por ele mesmo ou a outros e que gera a interrupção do tratamento a que vem sendo submetido;
  • oferecer, em algumas situações, proteção aos indivíduos que atendam aquele paciente.
As principais indicações para o uso de restrições são: 
1. alto risco de agressividade contra outras pessoas e a si mesmo, que não melhoraram com intervenções menos restritivas;
2. alto risco de degradação do ambiente como janela, mobiliários, equipamentos, dentre outros;
3. por solicitação do próprio paciente e ou família para garantir diagnóstico e tratamento adequados, quando há risco de agitação psicomotora;
4. uedas, seja em crianças, pacientes agitados, semiconscientes, inconscientes ou com convulsões;
5. nos casos de agitação pós-operatória, como em craniotomia;
6. doentes mentais em situação de agressividade;
7. para alguns tipos de exames ou tratamentos; para pacientes não colaborativos na manutenção de sondas, cateteres, drenos, curativos etc. 


2. Pode-se classificar a restrição como física, mecânica, psicológica, ambiental e química.
  • Restrição física: é aquela em que há o envolvimento de um ou mais membros da equipe de saúde em contato direto ou indireto com o paciente, com o propósito de imobilizá-lo sem elementos ou dispositivos de restrição mecânica;
  • Restrição mecânica: procedimento em que são usados dispositivos, tais como pulseiras de couro nos pulsos e/ou tornozelos, luvas, coletes, camisolas restritivas, pulseiras almofadadas (incluindo-se o uso de ataduras de crepe e algodão ortopédico ou compressa de algodão), para imobilizar o paciente. As grades elevadas no leito, sujeitas a freqüentes controvérsias, são consideradas restrições quando usadas para prevenir a saída do paciente do leito ou restringir voluntariamente a movimentação do mesmo.
  • Restrição psicológica: refere-se a intimidação ou a ameaça verbal durante o atendimento, que resulta em comportamento de reclusão ou restrição de liberdade do paciente e ou família.
  • Restrição ambiental ou isolamento: é o confinamento involuntário de uma pessoa sozinha num quarto ou habitação para impedir fisicamente sua saída. Alguns pacientes afirmam ser o isolamento uma prática muito desagradável, parecida com o confinamento solitário empregado nas prisões.
  • Restrição química: medida terapêutica na qual são usados medicamentos para controlar o comportamento ou restringir a liberdade de movimento do paciente, prevenindo injúrias a ele e a outros. Dentre os meios menos restritivos para controlar a agressividade ou agitação de um paciente e, conseqüentemente, evitar sua restrição física ou mecânica imediata, a restrição química deve ser a escolhida. Optando-se pela contenção do
3 paciente no leito, o médico ou a enfermeira devem prescrever a contenção e anotar a justificativa clínica do seu uso no prontuário do paciente. A prescrição deve conter o tipo de restrição a ser usada, o período de tempo específico de aplicação, e a parte do corpo a ser contida. Prescrições de enfermagem devem conter os cuidados para a prevenção de complicações. É interessante lembrar que o uso de restrições não deve exceder mais que 24 horas e que o uso por cerca de três a cinco dias tem sua justificativa clínica cada vez mais questionável.
A restrição mecânica poderá ser realizada com Faixa (Punho ou Tornozelo), do tipo Luvas e a restrição de Corpo utilizando-se de lençóis, faixas elásticas, coletes, tábuas, talas, cama com grade, sacos de areia, ataduras (simples e gessada), aparelho de tração ortopédica, dentre outros. Instituições de saúde devem possuir protocolos referentes a avaliação e uso de qualquer tipo de restrição. A seguir se descreve exemplo referente a contenção de pacientes no leito.
Algumas intervenções têm sido descritas como capazes de levar a redução da necessidade de uso de restrição, dentre elas destacam-se:
- distração;
- fornecer informações sobre todos os procedimentos realizados;
- fornecer informações acerca de todos os equipamentos utilizados;
- posicionar o paciente confortavelmente;
- satisfazer as necessidades de hidratação, alimentação e eliminação;
- incentivar a presença de familiares e amigos;
- estimular a participação de acompanhantes na assistência;
- estimular deambulação e prática de atividades físicas;
- realizar observação freqüente;
-procurar colocar pacientes de risco em locais de fácil acesso e

monitoração pela equipe de enfermagem;
- promover bom padrão de sono e repouso
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Fluxograma da contenção dos pacientes no leito:
CONTENÇÃO DE PACIENTES NO LEITO
Material
  • Compressas de algodão ortopédico
  • Loção ou creme hidratante
  • Atadura crepe
  • Esparadrapo ou fita hipoalergênica
Pré-execução
  • Avaliar a necessidade de contenção do paciente
  • Orientar o paciente e familiares quanto ao uso de contenção, as razões de seu uso, duração e
    possíveis complicações
  • Higienizar as mãos
  • Reunir o material
  • Inspecionar local a ser restrito
Restrição física
Execução
Imobilizar fisicamente o paciente com auxílio da equipe, evitando cuidadosamente traumas ao paciente
Restrição mecânica
Lavar e secar a área a ser restringida
Aplicar loção ou creme hidratante se a pele estiver ressecada
Dobrar a compressa de algodão em três no sentido do comprimento, e enrolar ao redor do
punho ou tornozelo do paciente
Prender o conjunto com um nó e prender as pontas soltas da atadura na cama
Restrição química
Administrar o medicamento prescrito seja por via IM, EV ou VO
Após a medicação, avaliar continuamente quanto aos efeitos colaterais dos medicamentos
Pós-execução
  • Avaliar o paciente periodicamente a cada duas horas quanto ao seu comportamento, eficácia da restrição, presença de complicações e necessidade de manutenção ou associação de outras medidas terapêuticas
  • Anotar no prontuário do paciente informações como motivo das restrições, horário e tipo de restrição, reações do paciente, cuidados com as restrições e os membros restritos
    Observações: avaliar as restrições no mínimo 1 x/plantão e trocá-las 1 x/dia, após o banho ou se estiver suja; ajudar o paciente em relação às suas necessidades de nutrição, excreção, hidratação e higiene etc;
    Monitorar as condições da pele e circulação nos locais e membros contidos; retirar as restrições do paciente assim que possível.

Fonte: Silva, S C; Siqueira I L C P; Santos A E. Boas práticas de enfermagem em adultos: procedimentos básicos – São Paulo: Atheneu, 2008.
Os cuidados de enfermagem realizados com pacientes submetidos a restrição, devem ter como fundamento a promoção de sua segurança. O aumento da complexidade da assistência e, conseqüentemente, dos riscos associados, está diretamente associado ao avanço científico e tecnológico. A responsabilidade pela segurança do paciente envolve, portanto, toda a sociedade, profissionais de diversas áreas, administradores, governo e consumidores, com o objetivo de proporcionar uma assistência livre de danos.
Assim, durante o cuidado destaca-se a necessidade de utilizar protocolos institucionais relativos a aplicação de cada tipo de restrição, bem como, da prevenção de eventos adversos relacionados.
Todo o plano assistencial e as ações da equipe de enfermagem devem ser registrados no prontuário do paciente, de acordo com as fases do processo de sistematização da assistência de enfermagem. Destaca-se neste contexto a necessidade de informação do paciente e família, a prescrição do tipo de restritor, o uso de protocolos assistenciais relativos aos cuidados e a prevenção de complicações, a realização de anotação de todas as intervenções realizadas, bem como, a análise e documentação dos resultados alcançados.
Bibliografia Consultada:
EDUARDO MBP, 2002. Vigilância Sanitária. São Paulo: Editora Fundação Petrópolis.
FELDMAN,L.B. Como alcançar a qualidade em intituições saúde. São Paulo: Martinari, 2004.
QUINTO NETO, A. Segurança dos pacientes, profissionais e organizações: um novo padrão de assistência à saúde. Revista Administração e Saúde, Porto Alegre, v.8, n33, p153-158,Out-Dez,2006.

MACHADO AF, KUSAHARA DM. A documentação da assistência de enfermagem e a segurança do paciente. In: HARADA MJCS, PEDREIRA MLG, PETERLINI MAS, PEREIRA SR (Orgs.). O erro humano e a segurança do paciente. São Paulo: Atheneu, 2007. p 195-199.
REASON, J. Managing the Risks of Organizational Accidents, 1997.
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NURSES BOARD OF SOUTH AUSTRALIA. Restraints: guideline for nurses and midwives in South Australia. [on line]. [cited 2008 Dec 13]; Available from: http://www.nursesboard.sa.gov.au/documents/UseofRestraintGuidelinewithflow chart.pdf.
SILVA, S C; SIQUEIRA I L C P; SANTOS A E. Boas práticas de enfermagem em adultos: procedimentos básicos – São Paulo: Atheneu, 2008
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